segunda-feira, 2 de abril de 2012

Boa notícia para os adeptos da pesquisa de fontes

A biblioteca privada de Nietzsche pertence ao acervo da Hergozin Anna Amalia Bibliothek, ligada ao Klassik Stiftung Weimar. Com a mala abarrotada de livros, enviados ora de Naumburg pela mãe e pela irmã, ora da Basiléia pelo amigo Overbeck, ora de algum editor em Leipzig, que o municiava com as novidades do mundo erudito, Nietzsche era forçado a cruzar de trem a Europa de norte a sul ao longo dos anos à procura de um clima adequado à sua filosofia e à sua saúde frágil, numa rotina que antecipou a imagem que posteriormente alguns de seus comentadores procuraram fixar para a sua personalidade filosófica: a de um pensador nômade. Esse nomadismo se transferiu também obrigatoriamente para a sua biblioteca, que durante a década de 80 se converteu em uma biblioteca itinerante. Graças à devoção fervorosa da irmã e de alguns poucos amigos a sua biblioteca privada sobreviveu a tais condições adversas e, após ter sido cuidadosamente catalogada, teve todos os seus volumes microfilmados e colocados à disposição dos pesquisadores que tivessem ânimo e condições de peregrinar até a Meca dos estudos germânicos, a pequena Weimar que abriga o espólio de tantos escritores e pensadores alemães sob a eterna proteção de Goethe. Mais recentemente, um grupo liderado por Giuliano Campioni produziu um volume com a enumeração de todos os indícios de leituras em cada uma das páginas de cada volume da biblioteca privada do filósofo. Mas a boa notícia para os entusiastas da pesquisa de fontes é que parte deste acervo já está disponível para consulta online. Há verdadeiras preciosidades entre os volumes já disponibilizados: obras raras que há dez anos atrás exigiriam uma visita a uma boa biblioteca européia podem agora ser consultadas no volume utilizado por Nietzsche, com todas as suas marcações de leitura, etc. no conforto de sua sala de trabalho. Otto Caspari, Léon Dumont, Eugen Duhring, Afrikan Spir, Emerson, Espinas, Charles Féré, Drossbach, Jean Marie Guyau, Paul Bourget, Alfons Bilharz, Bizet, Emanuel Hermann, Euripides, Diogenes Laércio, Cícero, Plutarco, Galiani, Pascal, Lecky, Liebmann, Leopold Schmidt, Tucídides, Renan, Wellhausen, além das obras do próprio Nietzsche são alguns dos volumes já disponíveis para consulta bem aqui, ao alcance de um clique do mouse. É uma esplêndida notícia para aqueles que são da convicção de que a pesquisa de fontes ainda não esgotou o seu potencial e a reconstrução do contexto intelectual e das leituras de Nietzsche podem contribuir para iluminar não apenas a compreensão da obra do filósofo, mas todo um capítulo da cultura européia. Espero que toda esta comodidade não nos torne menos propensos à viagem. Que o acesso aos textos utilizados por Nietzsche seja um estímulo a mais para nos pormos a caminho.

3 comentários:

  1. Rogério,

    Bela notícia mesmo! Eu, como sabes, "formado" na pesquisa de fontes, estou em êxtase!

    Abs.
    Ernani

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  2. Prezado Rogério Lopes,

    utilizo bastante as fontes de Nietzsche em minhas pesquisas e também fiz uso das obras digitalizadas disponíveis no site da Klassik Stiftung Weimar (Féré e Jacolliot), é de fato um recurso inestimável para a pesquisa Nietzsche. Segue o link de um trabalho publicado.
    Abraço,

    Allan Sena.

    http://www.agonfilosofia.es/index.php?option=com_content&view=article&id=110&Itemid=4

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  3. Obrigado pelo comentário Allan, e parabéns pelo texto.
    Abraço,
    Rogério

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